sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Urna de ovelha


   Você sabe o que é o “voto de cajado”? Bem, basicamente é como alguns religiosos apelidaram o voto de cabresto promovido pelos pastores. E, caso não saiba o que é o voto de cabresto, é quando certa pessoa com qualquer influência maior sobre outras ofereça “favores” caso votem no candidato indicado por eles; caso isso não seja feito, a pessoa que se recusou a dar o voto recebe algum tipo de “punição” (pelo menos é essa a idéia). Era muito comum no Brasil Colonial, quando coronéis faziam favores em troca de votos a seus indicados e lançavam os jagunços no encalço de quem não o fizesse. É uma verdadeira política de pão e circo, mais ou menos.
   
   

   Como sabemos, as igrejas protestantes ganham cada vez mais força no Brasil e surgem mais “grupos”, como a mais recente que eu conheço, a Bola de Neve (acho que é isso). Bem, os pastores dessas igrejas exercem uma forte influência sobre suas “ovelhas”, principalmente sobre os que já freqüentam a igreja há um longo tempo. E essa influência não poderia também ficar de fora da área política.
   Vejamos, o brasileiro é tido como um povo brejeiro e isso se torna verdadeiro quando falamos de política. Quase ninguém se interessa por essa área hoje em dia; também, pudera! Temos péssimos exemplos na política de hoje e nenhum incentivo à participação pública nas câmaras. Então, digamos que eu, um brasileiro que não se interessa por política, vou à igreja e ouço meu pastor falando que tem um candidato excelente e que Deus trará bons tempos aos que votarem em Fulano. Eu vou procurar pesquisar sobre o candidato e outros, ou simplesmente ouvir meu líder religioso e escolhê-lo?
   E é isso que encontramos em muitas igrejas, principalmente de denominações evangélicas, hoje em dia; não digo que ocorre em todas, mas na maioria. E, claro que os candidatos sempre fazem parte do meio religioso. Mesmo quem não vai à igreja pode ver nas ruas os cartazes de “Pastor Fulano”. E qual é o grande problema disso? O Estado é laico; ou pelo menos deveria ser. A religiosidade ou falta dela não pode e nem deve afetar a sua decisão final na urna; a única coisa crucial que devemos considerar nos candidatos é sua competência como político e seu compromisso com o povo.
   Bem, o problema não está apenas nos pastores, mas também nos religiosos que se deixam influenciar por seus líderes sem sequer procurar informações sobre os candidatos. E, bem, sabemos que os candidatos religiosos nem sempre merecem algum crédito, porque eles irão levar esses conceitos religiosos para a câmara; vão levar seu preconceito contra gays e ateus, sua intolerância ao aborto e às piadas religiosas. Devemos lembrar que as decisões dos deputados, vereadores, etc, devem visar apenas o bem do povo e não uma satisfação divina.
   Um exemple disso é o candidato e pastor Marco Feliciano, que nutre um grande preconceito contra gays principalmente; tanto que, na última semana declarou no congresso Gideões Missionários que “a AIDS é o câncer gay”, o que revela total ignorância sobre a doença, os homossexuais e as DST’s em geral. Também culpou a "sexualidade libertina" pelo aumento dos casos da doença e também em seu twitter ele disse que “africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé” e justificou as afirmações atribuindo as misérias do continente africano à “primeira relação de homossexualismo do mundo”, que segundo ele ocorreu naquela região.  Mais tarde, o pastor disse que as postagens feitas em seu twitter foram colocadas por acessores sem sua autorização;mas, sinceramente, acho que não.
   Há um abaixo-assinado na internet pedindo a cassação do deputado, que você pode assinar aqui.
   
   Bom, para não alongar ainda mais o “protesto” mal feito dessa adolescente, peço que você, religioso ou não, não se deixe influenciar por seu pastor, amigo, chefe, o raio que o parta. Nós lutamos muito para conseguir o direito de voto,  e o mínimo que você pode fazer para honrar os que lutaram nessa empreitada é se importar com a política, é se informar sobre seu candidato (mesmo que no final seu voto acabe sendo nulo) e trazer um pouco de esperança à nossa política brasileira. Quem faz a política é povo, então vamos fazer o povo trabalhar.

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.
                                                     (Berthold Brecht)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hey!, se você não comentar, como vou saber que passou por aqui? Deixe sua opinião e faça uma pessoa feliz ~voz campanha de solidariedade~