Ano: 2014
Direção: Matt Reeves
Nota: 3,5/5
Sinopse: Uma crescente nação de primatas geneticamente modificados e liderados por Cesar é ameaçada pelos sobreviventes humanos de uma alarmante epidemia viral desencadeada há uma década. O momento de paz em que se encontram está fragilizado e dura pouco, quando os dois lados são levados à beira de uma guerra que determinará quem será a espécie dominante da Terra.
Em 2012, o filme Rise of the Planet of the
Apes nostrouxe uma introdução sobre o que seria o planeta dos macacos. Trouxe
uma explicação que o primeiro filme (de 1968) não nos deu: no Planeta dos
Macacos original, entende-se que os macacos evoluíram rapidamente num período
muito menor que dois mil anos. Considerando a teoria de Darwin, coisa
impossível de se acontecer. Na nova franquia, os símios ganharam inteligência
excepcional depois de serem expostos a um medicamento que poderia ser a cura
para o Alzheimer nos humanos.
Se o primeiro filme foi mais explicativo e
nos apresentou à história, Dawn of the Planet of the Apes começa a moldar o
Planeta dos Macacos para que ele se torne aquele que conhecemos, o mesmo que
nos foi apresentado por Schaffner. E, como um bom filme Hollywoodiano não poderia
deixar de ser, com altas doses de apelo emocional e cenas de ação “mais do
mesmo”.
Dawn of the Planet of The Apes se passa dez
anos depois de os macacos iniciarem a sua evolução. Os mesmos testes em
laboratório que os ajudou também acabaram por criar um vírus, a “Gripe Símia”,
que viria a dizimar quase toda a população humana. Os macacos, por outro lado,
tiveram seu número visivelmente multiplicado, suas habilidades foram
aperfeiçoadas e sua sociedade cresceu. Eles têm uma colônia para abrigar todos
de sua espécie. *Aí eu vi uma incongruência e até um ponto negativo, por
enquanto. A “colônia” se concentra num espaço bem pequeno para tantos macacos.
Por outro lado, eles vivem no meio da floresta e se mostram seres de vida
coletiva, portanto o espaço não reprensetaria um problema para os símios. E
isso também pode demonstrar a sua evolução gradual, assim como supõe-se que foi
a do ser humano: a vida coletiva é uma prioridade para a sobrevivência, mas aos
poucos torna-se trivial. Mesmo assim, a situação me incomodou um pouco.*
Extremamente unidos, os macacos encontram sua força na família. “Macaco não
mata macaco”. Mais uma vez vemos a inversão de papéis: o ser humano atrasado,
precisando de outros recursos que não a natureza para sobreviver e tendo que
enfrentar a sua individualidade, enquanto os macacos enfrentam os problemas em
conjunto, utilizando-se da força do grupo e do ambiente que o cerca.
A primeira cena do filme mostra exatamente
essa evolução. E a superioridade que os símios atingiram em relação aos outros
animais. O “bando” sai para caçar. Nessa caça o alvo são antílopes, animais
mais frágeis. Mas, durante o evento, um acidente causa o ataque de um urso, que
também acaba sendo morto por um macaco. Uma coisa muito “emocionante” também,
que eu esperava ver, são os macacos montando cavalos. No filme original, os
soldados símios se locomovem cavalgando. Assim, os símios estão praticamente
controlando toda a natureza, desde à floresta até os animais. Desde os peixes e
mamíferos mais frágeis até os bichos mais ameaçadores.
A humanidade é considerada extinta pelos
macacos, que não vê nenhum ser humano há dois anos (pelo menos). Porém, uma
colônia de humanos sobreviventes se concentra num lugar próximo à floresta. Os
dois mundos se chocam quando os seres humanos precisam recorrer à natureza para
usar uma represa e, assim, poderem usufruir de energia elétrica. Logo nessa primeira
cena de encontro somos apresentados a um tipo de maniqueísmo que será
desenvolvido durante todo o filme: o primeiro homem que encontra os macacos
(dois símios jovens) fica apavorado e mata um deles a tiros.* Mais uma
incongruência típica de filmes hollywoodianos: o mundo acabou, os humanos foram
dizimados, não tem água, comida, roupa lavada. Mas as armas e munições são
literalmente infinitas.* Esse fato alarma tanto macacos quanto humanos e é ele
que desencadeia todos os confrontos que virão a seguir.
E ainda temos os macacos. Koba é um símio
que, antes da evolução, sofreu muitos abusos por parte dos humanos e tem sua
fúria renovada quando eles voltam a representar uma ameaça. É graças a uma ação
de Koba que a guerra é iniciada. Caesar voltou muito melhor do que estava no
primeiro filme. Agora ele é um líder amado; um pai de família; um “homem” (que
saco ficar escrevendo “macaco” e “símio” o tempo todo) dividido entre a sua
espécie, seu passado e a justiça. Caesar é o típico líder utópico de qualquer
sociedade: ele é frio em suas ações, mas sempre demonstra amor e simpatia por
seus seguidores; ele é justo com todos, não importando suas preferências; ele
preza a segurança de sua espécie, sua família, mais que tudo. E a mantém unida.
Eu adoro a figura de Caesar e o que ele representa. Mas meu preferido é
Maurice, a única figura familiar ao espectador além de Caesar. Maurice é o
seguidor mais leal de Caesar e um tipo de “conselheiro do rei”, o mais sábio
entre os macacos, que sempre está em busca de conhecimento. Uma das cenas mais
emocionantes (e quase desnecessárias) do filme é quando Maurice e Alexander
(filho de Malcolm) compartilha um livro no acampamento.
Apesar de o filme começar a dar à luz o
planeta dos macacos do filme original, ainda não vemos o cenário desértico e
destruído que Schaffner nos apresenta. Pelo contrário. A
natureza agradece pela
extinção dos humanos. As florestas voltaram a crescer e o mundo parece estar
retornando às suas origens. A única destruição observada são as grandes cidades
que antes abrigavam a humanidade. Isso também contribui para o maniqueísmo
alimentado no filme. “O humano não sabe cuidar do que é seu”, é isso que os
cenários nos dizem. Nas mãos dos humanos, o planeta estava em crescente
processo de destruição. Com os macacos, ele prospera. E também retoma a crítica
apresentada no filme original.
Essa
primeira parte do longa mostra-se inteligente e faz jus à memória do filme de
1968 e também à do filme anterior. Tudo poderia ser lindo se a ação não fosse
tão comicamente exagerada. Principalmente pelas armas e munições intermináveis
e metralhadoras que atiram infinitamente. E, no meio disso tudo, há as cenas
com o verdadeiro apelo emocional. E esse apelo vai pelo lado familiar, pela
união da espécie, sejam humanos ou macacos. Por isso mesmo é impossível ao
espectador não se identificar com a situação ou com as personagens.
Pessoalmente, eu gostei do filme e estou
gostando dessa continuidade da franquia e admirando a relativa calma com que
eles estão levando a história. São filmes hollywoodianos, mas conseguem ser
também inteligentes e atrair os fãs de Planeta dos Macacos. Com prazer.
A esperança vem no grand finale. A promessa de
que a sequência trará um Planeta dos Macacos renovado. Que vai nos dar o grande
cenário de destruição. Cortesia humana.
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