sexta-feira, 15 de agosto de 2014

[Maratona Disney] #1: Branca de Neve e os Sete Anões (1937)

Título original: Snow White and the Seven Dwarfs
Ano de lançamento: 1937
Sinopse: Uma rainha má e bela resolve, por inveja e vaidade, mandar matar sua enteada, Branca de Neve, a mais linda de todo o reino. Mas o carrasco que deveria assassiná-la a deixa partir e, durante sua fuga pela floresta, ela encontra a cabana dos sete anões, que trabalham em uma mina e passam a protegê-la. Algum tempo depois, quando descobre que Branca de Neve continua viva, a Bruxa Má disfarça-se e vai atrás da moça com uma maçã envenenada, que faz com que Branca de Neve caia em um sono profundo até o dia em que um beijo do amor verdadeiro a faça despertar.
   Branca de Neve é uma jovem princesa que vive num lindo castelo com a malvada Rainha. Ainda criança, Branca é obrigada a servir como empregada do castelo porque a Rainha teme que um dia ela ultrapasse a sua beleza. Branca de Neve, porém cresce e se torna uma moça bonita. A mais bonita entre todas as moças do reino, de acordo com o espelho mágico da Rainha. Um dia, um príncipe aparece no castelo e se encanta por Branca de Neve. Os dois se apaixonam perdidamente e essa é a gota d’água para a Rainha. Então, ela manda o caçador de sua confiança levar Branca para um passeio na floresta; lá, ele deve matá-la, arrancar seu coração e entregá-lo à Rainha numa caixa bem bonitinha.
   Porém, o caçador não tem coragem de terminar o serviço e alerta Branca de Neve sobre as más intenções da Rainha e manda que ela fuja para as entranhas da floresta. Assustada, Branca de Neve corre pela floresta até os animais a ajudarem e a levarem para a casa dos Sete Anões que trabalham numa mina próxima dali. Os anões passam a proteger Branca da Rainha má, que acaba por descobrir a traição do caçador. Irada, ela decide se disfarçar para entregar à Branca de Neve uma maçã envenenada, que faria Branca mergulhar num sono profundo, o Sono da Morte. A única coisa que poderia tirar Branca de Neve de tal feitiço seria o primeiro beijo do amor verdadeiro. Mas isso não é preocupação para a Rainha; os anões enterrariam o corpo da jovem, de qualquer maneira.
  
  
Fazia muito tempo que eu não assistia a um clássico da Disney. E com certeza fazia mais tempo ainda que eu não via Branca de Neve e os Sete Anões. É engraçado, porque, depois de tanto, eu aproveitei muito a uma hora e meia de filme, me diverti, ri e quase chorei. Mas também passei a notar algumas coisas que a gente com certeza não nota quando é criança. Não que Branca de Neve deva ser desvalorizado (muito pelo contrário) ou que não seja um conto de fadas mágico e maravilhoso. Mas tem coisas que realmente me chamaram a atenção além do óbvio.
   Eu não me lembrava de como o início do filme é superficial. Os filmes da época realmente têm uma duração mais curta. Nos primeiros minutos, não sabemos de absolutamente nada sobre a história. Temos a cena clássica do livro se abrindo e contando uma parte bem pequena da vida de Branca. Então já somos levados para a Rainha e seu espelho e para o não tão incrível encontro entre Branca de Neve e Príncipe Encantado. *Ah, não é engraçado notar que os príncipes são de suma importância para começo e fim da história, mas nunca têm um nome?* E depois já estamos na floresta com Branca e os sete anões. E não há nenhum passado também; além de Branca ser uma princesa e ter sido transformada numa criada, não sabemos de nada além disso. Afinal, o que a Rainha é sua? Mãe, madrasta, tia? Onde está seu pai? Onde está toda a população do reino (afinal, tem que ter alguém para Branca ser considerada a mais bonita)? De onde veio o tal Príncipe e o que ele foi fazer no castelo? Por que os anões vivem no meio da floresta e não num vilarejo próximo ao castelo como se espera que as pessoas fazem? Toda a história se concentra em apenas dois dias. E parece o bastante.
   É interessante também notar o estereótipo da mulher que esperava-se que existisse nas décadas de trinta a meados de 1950. Branca de Neve é uma mulher jovem, bonita, extremamente gentil; ela sabe lavar e cozinhar muito bem, e faz isso como se fosse um tipo de passatempo, algo muito natural. É assim que a mulher deveria ser (e algumas pessoas ainda acreditam nisso): a dona de casa, que vive para servir ao marido e à comunidade. Além de ser incrivelmente bonita e bem humorada, claro. Já a mulher que é diferente disso tem seu comportamento levado ao extremo e é a vilã da história. A Rainha não é tão bonita (sua beleza é sustentada por maquiagem e adornos), não é tão gentil; ela não quer lavar e cozinhar, ela não quer ser devota a um homem. Ela tem ambição, quer ser mais do que deveria ser. Ela é uma bruxa e tanto.
   Outra coisa que notei é que, mesmo que por alguns instantes, Walt Disney acrescentou o elemento da religiosidade na história. Num mundo onde existem animais que se comunicam claramente com humanos, anões vivem isolados numa floresta, há uma rainha má que faz poções e tem um espelho mágico. Mesmo num mundo claramente fantasioso. Um mundo que não o nosso mundo. Mesmo assim Branca de Neve aparece orando a um deus numa cena. Provavelmente o mesmo deus cristão ao qual as crianças devem aprender a direcionar seus desejos e segredos mais profundos.
  
Como não pode faltar, há todo aquele amor utópico. Branca e o Príncipe (pelo que podemos ver) se encontram apenas uma vez na vida e apenas por alguns instantes e já se apaixonam para a vida inteira. E nós sabemos que esse amor é raríssimo e, mesmo quando acontece, não procede da mesma maneira como nos contos de fadas. Mas não é só com o Príncipe Encantado; os anões convivem com Branca de Neve por um dia apenas e, na ocorrência de sua morte, eles quase entram em depressão! (O que também serve para reforçar o estereótipo ao qual Branca se encaixa: todos a adoram porque ela é linda, gentil, etc etc). E é essa promessa de felicidade, essa felicidade perfeita e eterna que é feita a todas as pessoas capazes de acreditar. É isso que nos encanta tanto nos contos de fadas da Disney.
   Que tal relembrar algumas cenas que me intrigaram um pouco? a) um pouco depois de terminar suas poções, a Rainha deixa o castelo através de uma pequena porta do tipo alçapão. Quando ela está descendo, a única coisa que vemos é a sua mão segurando a porta e seus olhos malvados. Não lembra a cena icônica de Evil Dead? Será que Branca de Neve serviu de inspiração para um dos maiores filmes de terror trash do cinema? b) em outra cena, quando a Rainha já está na floresta conversando com Branca de Neve, os pássaros que a tentam proteger atacam a bruxa e ela acaba derrubando a maçã envenenada. Ela a recupera do chão e a toma para si possessivamente quando Branca tenta tocá-la para ver se está tudo bem. Só faltou ela gritar “my preciousssss”; sim, lembra muito o nosso querido Gollum, de O Senhor dos Anéis. c) a cena em que Branca está em plena fuga pela floresta. Parece uma viagem psicodélica misturada a um dos meus piores pesadelos. É uma das cenas mais bizarras que eu já vi em um filme necessariamente familiar, ainda mais em 1937! d) a morte da Rainha. Um pouco antes de cair do penhasco e ser esmagada por uma pedra (outra cena bem trágica), a Rainha é perseguida por um par de urubus que, num primeiro momento, parecem ser amigos dela. Porém, no exato momento em que ela experimenta sua queda, eles apenas observam e sorriem; tal elemento me deixou curiosa por sua natureza quase desnecessária e por deixar a cena da morte da bruxa ainda mais sinistra do que é naturalmente.
   Bom, por fim, só posso deixar claro o meu deleite por essa decisão de fazer a maratona com os filmes da Disney. As músicas de Branca de Neve e os Sete Anões são todas maravilhosas. Elas são alegres, engraçadas e muito românticas. Quem não adora a cena da festa na casa dos anões, principalmente quando há a dança entre Branca, Atchim e Dunga que seria repetida vezes sem conta no cinema? Quem não suspira com Branca contando (ou cantando) sua história de amor para os anões? Quem não se emociona na cena em que o Príncipe finalmente a encontra e canta a música deles a caminho do “túmulo”? E o humor bobo e inocente que encontramos na figura dos sete anões? Eu sinceramente ri mais do que esperava durante o filme.
   Apesar dos pesares, eu vi, ouvi e senti toda a magia presente em Branca de Neve e os Sete Anões. E tudo converge para o mesmo ponto em que esse filme com certeza merece ser dito um dos clássicos da Disney, por toda a sua inovação, sim; mas também por todo o encanto que nos proporciona até hoje!


   Próxima parada: Pinoccio, de 1940.

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