Título original: Dumbo
Ano de Lançamento: 1941
Sinopse: Dumbo é um bebê elefante que nasceu com orelhas
enormes e com a ajuda de Timóteo, um simpático ratinho, vai se transformar na
principal atração de um circo. Usando suas orelhas, ele faz o que nenhum outro
elefante conseguiu: voar!
Durante a noite, as cegonhas voam pelos ares
trazendo os bebês de todos os que estão esperando. Até mesmo os
animais do
circo. A Sra. Jumbo está ansiosa esperando o seu filhote e, atrasado, ele
finalmente chega. Um elefante todo cinza, fofo e desengonçado. Mas, há só um
problema: Jumbo Júnior nasceu com orelhas enormes, quase maiores que ele. Maldosamente,
as outras elefantas do circo apelidam-no de Dumbo (“estúpido”, em inglês).
Além de ver sua própria espécie rejeitando-o,
Dumbo precisa enfrentar o preconceito dos visitantes do circo. Sua mãe tenta
protegê-lo a todos custo e, quando o ameaçam, ela fica furiosa e acaba por
atacar o dono do circo. Por isso, é considerada louca e descontrolada; a
atitude do dono é isolá-la numa pequena jaula longe dos outros animais e
afastada de Dumbo.
Assim, a única companhia de Dumbo é Timóteo,
um camundongo que não vê o menor problema com suas orelhas e até enxerga nelas
potencial. Timóteo quer transformar Dumbo numa verdadeira estrela. Mas, no
número proposto, Dumbo não consegue se sobressair: as orelhas o atrapalham e
ele transforma o show num verdadeiro desastre. O pública apenas o admira por
sua aparência engraçada. Então, Dumbo é transformado num palhaço.
Mas Timóteo ainda o ajudará a descobrir seu
potencial, partindo de suas próprias fraquezas.
“Dumbo” é o quarto longa animado da Disney.
Com apenas uma hora de duração, o filme conta uma história muito simples mas que
tem alguns braços e pernas que merecem ser analisados.
A um primeiro momento, “Dumbo” é,
obviamente, uma história sobre o preconceito. Como é estranho quando somos
diferentes sem culpa alguma e ainda somos julgados por isso. Percebe-se também
uma certa hipocrisia no preconceito em si; primeiro, porque somos todos diferentes
de todos, usando a máxima “você é único”. Numa cena em especial, Dumbo é
caçoado por um garoto que está visitando o circo e o próprio garoto, de uma
malícia extrema, tem também orelhas de tamanho fora do comum e seus dentes não
são exatamente certinhos. O preconceito, na realidade, é uma maneira de negar
seus próprios defeitos: o ser humano rejeita aquilo que não quer para si. A
história de Jumbo Júnior também é sobre superar suas fraquezas. Sobre encontrar
aquilo que lhe faz mal, que pode te prejudicar e entender que isso pode ser
transformado em uma vantagem. Isso pode até ser contraditório, porque, pra mim,
transformar suas fraquezas em vantagens pode também ser uma forma de negá-las,
apenas de uma maneira diferente. A questão é que isso trás paz de espírito,
portanto é o que importa. Porque não abre espaço para julgamentos ou
hipocrisias. Mostra que você é forte.
Apesar disso, quando vi “Dumbo”, o que passa
pela minha cabeça é a exploração animal. Registro aqui a dica para dois
documentários que quiser conhecer um pouco do assunto: o curta “Apologia aos
Elefantes” e o longa “Blackfish”.
Na década de 1940 ainda eram muito comuns
circos que utilizavam animais para seus maiores espetáculos. Os bichos eram
obrigados a realizar feitos que a natureza não lhes impunha. Isso ainda acontece,
infelizmente. Basta apenas olhar, por exemplo, para o caso do garoto que teve
seu braço arrancado por um tigre. O animal fica preso numa jaula vinte e quatro
horas por dia, recebe alimentação de um tratador. Resumindo: não tem estímulo
algum, não realiza as inúmeras atividades que realizaria na natureza. E as
pessoas ainda podem olhá-lo e provocá-lo à vontade, aparentemente. É claro que
o animal sente-se acuado e se revolta, porque é isso o que ele faz. No próprio
filme há uma sequência que mostra o desfile do circo pela cidade. O gorila está
enjaulado assim como os outros animais; ele faz a imagem de bicho revoltado e
se debate contra as grades. Num dado momento, uma das grades é arrancada e o
gorila faz uma cara de constrangimento, colocando a barra de volta em seu
lugar. Dominamos os animais até o ponto em que eles negam absolutamente sua
natureza. Outra cena interessante é o momento em que os “estivadores felizes” e
os elefantes montam as tendas do circo e organizam as jaulas à noite, sob uma forte
chuva. No dia seguinte, está tudo pronto e o dia amanhece iluminado. Isso serve
para nos mostrar que, às aparências, os circos e zoológicos são instituições
organizadas, respeitosas e quase perfeitas. Mas, na verdade, elas são
construídas sobre o sofrimento de animais e pessoas que não têm uma escolha.
Há uma cena em particular que talvez muitos
se lembrem. Dumbo acaba ficando com um
soluço e Timóteo sugere que tome um
pouco d’água. Porém, a água disponível é a mesma na qual os palhaços derrubaram
uma garrafa de espumante. Logo, Dumbo e Timóteo ficam bêbados e têm um tipo de
viagem psicodélica. Dumbo consegue fazer bolhas com o espumante através de sua
tromba e as bolhas criam formas de elefantes dançantes. A cena é muito
colorida, a música muito agitada e tudo dura bem uns três minutos. Ainda não
consegui deduzir o propósito da cena. A única maneira que encontro de
justificá-la é... bem, Cannabis.
“Dumbo” é um filme com uma mensagem simples.
Mas tem personagens contagiantes; o próprio Dumbo, que não tem uma única fala,
conquista o espectador. Além disso, as músicas são adoráveis (a emocionante
Baby Mine, a divertida When I see na Elephant Fly e a própria Pink Elephants on
Parade). É bonito, divertido e com uma pequena moral. Nada mais.
Próxima
parada: o preferido “Bambi”, de 1942.
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