sexta-feira, 27 de junho de 2014

[Cinema] The Planet of the Apes (since 1968)

   A menos de um mês da estreia de “Dawn of the Planet of the Apes” (“Planeta dos Macacos: O Confronto”, no Brasil), sequência do longa “Rise of the Planet of the Apes” (“Planeta dos Macacos: A Origem”) é bom lembrar aos navegantes: o filme de 2011 não é o primeiro. No distante ano de 1968, um cara chamado Franklin J. Schaffner foi responsável por dirigir o filme “The Planet of the Apes”, que viria a ser um dos maiores clássicos da ficção científica (e do cinema no geral) de todos os tempos.
   Sinopse: George Taylor, um astronauta americano, viaja por séculos em estado de hibernação. Ao acordar, ele e seus companheiros se vêem em um planeta dominado por macacos, no qual os humanos são tratados como escravos e nem mesmo tem o dom da fala.








   O astronauta George Taylor e os outros quatro integrantes da tripulação de sua nave viajaram por mais de 2000 anos no espaço em estado de hibernação, sem nunca envelhecer. O objetivo da missão? Mostrar que o tempo passaria de forma diferente para os tripulantes da nave e os habitantes da Terra. Finalmente chega o momento de retornar à Terra, mas a nave apresenta problemas técnicos, levando-os ao mar de um planeta desconhecido, a quase trezentos anos-luz de distância do nosso planeta.
   Obrigados a abandonar a nave antes que ela afundasse no mar, os três indivíduos restantes da tripulação iniciam uma caminhada por um longo deserto aparentemente sem vida. Quando finalmente encontram alguma natureza, se deparam com os habitantes daquela terra desconhecida: criaturas muito parecidas com os próprios seres humanos, mas que não possuem capacidade de fala ou algum sinal de inteligência. Então, Taylor logo descobre os seres que realmente governam o lugar: símios, criaturas extremamente inteligentes, que subjulgam os humanos, considerando-os uma praga em seu planeta.
   Logo, Taylor é visto como uma ameaça a toda a vida que os símios conhecem e precisa ser detido.
   “The Planet of the Apes” ganha de cara por ter Charlton Heston no papel principal. O ator foi galã e astro de filmes como “Ben Hur”, “El Cid”, “Os Dez Mandamentos”, entre muitos outros e sempre fazendo trabalho boníssimo com suas atuações. Não é diferente aqui, onde ele é capaz de dar vida a um George Taylor frustrado, confuso e revoltado. E além dele temos as felizes interpretações de Maurice Evans como Dr. Zaius e Kim Hunter como Dra. Zira. Além das ótimas atuações, o filme tem uma ótima fotografia, ótima trilha sonora, excelente maquiagem. E ótimo roteiro, claro.
  
Na imagem: Cornelius (Roddy McDowall), Zira (Kim Hunter) e Taylor (Charlton Heston)
   
   Acima de tudo, mesmo com quase cinquenta anos desde sua produção, “The Planet of the Apes” não poderia ser mais atual. O filme todo é uma metáfora; existencialista e social, abordando temas como a luta de classes e a escravidão. Primeiro temos um George Taylor que não se importa com seu trabalho ou com o sentido de sua e dos demais, um homem que não tem nada a perder. E de repente ele perde a si mesmo e a todas as suas convicções num lugar novo e estranho e se torna uma criança confusa em busca de atenção, e em busca de algo que possa fazê-lo se importar. Taylor é a personificação do que somos em muitos momentos de nossas vidas. Então, temos a questão do preconceito irracional que os símios nutrem pelos humanos, estimulados por Dr. Zaius que preza a integridade da fé, cultura e sociedade que sua raça construiu. Uma coisa chocante para o espectador é justamente ver como esses seres – inferiores aos humanos em nosso mundo – foram capazes de criar sua própria cultura, de formar toda uma nova sociedade de forma muito semelhante aos humanos, mas invertendo completamente os papéis; somos colocados no lugar dos humanos do filme e vemos a nossa soberania questionada. E por conta de todo o preconceito sofrido, os humanos são feitos escravos, animais, que só servem para atrapalhar a sobrevivência dos símios. Neste cenário, somos apresentados à Dra. Zira e seu noivo Cornelius; ambos são importantes  cientistas, sendo a primeira dedicada à psicologia dos humanos e o segundo o formulador de uma teoria que afirma que os símios evoluíram de seres parecidos com os humanos num passado distante e não foram criados por seu líder. Porém, o casal é visto como dois hereges em meio a governantes conservadores e medrosos, ansiosos por manterem a integridade de sua sociedade, e se mantém constantemente no ataque às ideias de Zira e Cornelius.

   Finalmente, “The Planet of the Apes” traz em seu final trágico e surpreendente – que tornou-se um ícone na história do cinema – o destino do planeta Terra, que era claro desde 1968 (!) e justifica o medo e protecionismo que o Dr. Zaius e seus companheiros têm em relação aos humanos.
   Planeta dos Macacos ainda tem em sua totalidade angustiantes cenas de ação, coadjuvantes excelentes que nos ajudam a tecer o cenário do novo mundo governado pelos símios, um “quase anti-herói” que conquista logo o espectador, além de um dos beijos mais famosos do cinema mundial.
AS SEQUÊNCIAS
  Os anos 1970: De 1968 a 1973, “The Planet of the Apes” ganhou no total quatro filmes para sua sequência; todos foram realizações de baixíssimo orçamento e destinados “para a família”, e nenhum deles chegou à excelência do primeiro filme. Entre 1974 e 1975 foi realizada também uma série, que é um ótimo material para os fãs da franquia e se aprofunda mais na realidade criada pelos símios.
 
O trágico ano de 2001: Até mesmo Tim Burton se aventurou no mundo de Schaffner. Infelizmente para todos os fãs. Estrelado pelo não tão incrível Mark Wahlberg (que para a tristeza de todos também fará o novo filme da franquia “Transformers”), o filme de Burton, que tem o argumento de William Broyles Jr. (“Flags of Our Fathers”), Lawrence Konner e Mark Rosenthal (“Mona Lisa Smile”) é simplesmente um compilado de ideias desconexas, talvez querendo aproveitar a ideia do que o novo milênio reservaria para nós, um ótimo elenco (com Tim Roth e Helena Bonham Carter, além do próprio Heston em determinada cena, e outros atores excelentes) jogado no lixo com papéis desprezíveis, um excelente artista desperdiçando seu talento para a maquiagem (Rick Baker). E é claro de muito dinheiro e da paciência de muitos fãs da saga. Segundo Burton, o filme (que nem merece esse nome em qualquer sentido) era pra ser uma re-imaginação e não exatamente um remake (sim, algumas pessoas ainda chamam isso de remake!); mas, na minha opinião, o clássico de 1968 foi bem elaborado, bem explicado e, acima de tudo, foi um bom filme, e não precisava de uma “re-imaginação”. Até porque, o filme não tem nada de imaginativo.
   Vejam bem, o filme original é bem elaborado por muitos motivos, mas principalmente porque tem tensão, mistério ação nas medidas certas, prendendo o espectador desde o início (o primeiro macaco só aparece depois de quase meia hora de filme!) até o glorioso final. Já no filme de Burton (que nunca se desculpou pelo desastre; apesar de não levar tanta culpa) tudo acontece atropeladamente, sem tensão ou mistério, tudo cai do céu, inclusive os fenômenos inexplicáveis (seria isso pra deixar o filme com mais cara de ficção científica? Ou pra se fazerem de ridículos?). Por fim, a única coisa boa que saiu desta experiência foi a parceria de Tim Burton e Helena Bonham Carter.  
  
A suave década de 2010: Felizmente, em 2011, uma boa alma lançou o filme “Rise of the Planet oh the Apes”, que apagou da nossa lembrança o longa de Tim Burton e deu lugar para uma nova esperança de que a série renasça com qualidade.
   O longa se passa nos dias atuais e sem ser necessariamente um remake, conta a história anterior da chegada de George Taylor ao planeta dos macacos. O filme ganha, por exemplo, ao explicar como os símios chegaram a tal nível de inteligência (no filme original, dá a entender que os macacos simplesmente evoluíram em menos de mil anos). Agora os macacos são criados por computação gráfica e estão, digamos, em sua forma mais selvagem, o que pode ser pouco convincente para os que estão acostumados com os filmes anteriores (inclusive o de 2001), mas também dá novas facetas aos “animais”, que ganham expressões quase humanas. Os cenários de Nova Iorque são clichês, mas familiares e aproveitáveis (e serão principalmente no segundo filme). No elenco, temos as felizes presenças de James Franco e John Lithgow, que fazem parte da fase mais dramática do filme.
   Falando nisso, vi vários comentários com a opinião de que o filme “perdeu sua essência”, que agora é só ação e efeitos especiais. Pode até ser que os filmes não sejam tão explicitamente filosóficos, porque a situação mudou, mas a metáfora continua a mesma. Os efeitos especiais ajudam em muitos pontos. Apesar das cenas de ação (que também estão presentes no filme original), o “núcleo” do filme não é esse, mas sim o drama de Caesar e a ignorância e crueldade dos humanos. As cenas de ação ganham alguma destaque (principalmente nos trailers, então não se enganem) a fim de conquistar o grande público atual, porque afinal, este também é um dos objetivos do cinema hoje em dia.
   Não é um filme magnífico e com certeza não ganha do original, mas aquece o coração de alguns fãs e faz nascer o interesse de todos pelo excelente trabalho de Schaffner, Heston e equipe.
   Assim, espero grandes coisas do segundo filme, que promete ser emocionante e contar com uma ótima trilha sonora, além de Gary Oldman e Jason Clarke no elenco.
***

   “The Planet of the Apes” talvez devesse ser um filme intocável e apreciado em sua originalidade até hoje, tendo sua glória limpa, sem as manchas das diversas “ofensas” que sofreu ao longo dos anos. Talvez as reflexões que ele nos oferece devessem ser discutidas até hoje da exata maneira com que foram colocadas no filme. Talvez devêssemos abominar todas as adaptações que surgiram, principalmente as mais atuais, que ousam recontar a origem de tudo. Mas, sua glória foi tocada, manchas foram deixadas e todo mundo viu. Só resta agora a nós, mortais cinéfilos, fãs ou nerds (ou tudo ao mesmo tempo) amá-las ou odiá-las, sem nunca esquecer o legado que “The Planet of the Apes”, lá em 1968, nos deixou.

Confira abaixo o trailer final de "Planeta dos Macacos: O Confronto", que chega aos cinemas em 24 de Julho!


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