A menos de um mês
da estreia de “Dawn of the Planet of the Apes” (“Planeta dos Macacos: O
Confronto”, no Brasil), sequência do longa “Rise of the Planet of the Apes” (“Planeta
dos Macacos: A Origem”) é bom lembrar aos navegantes: o filme de 2011 não é o
primeiro. No distante ano de 1968, um cara chamado Franklin J. Schaffner foi
responsável por dirigir o filme “The Planet of the Apes”, que viria a ser um
dos maiores clássicos da ficção científica (e do cinema no geral) de todos os
tempos.
Sinopse: George
Taylor, um astronauta americano, viaja por séculos em estado de hibernação. Ao
acordar, ele e seus companheiros se vêem em um planeta dominado por macacos, no
qual os humanos são tratados como escravos e nem mesmo tem o dom da fala.
O astronauta George
Taylor e os outros quatro integrantes da tripulação de sua nave viajaram por
mais de 2000 anos no espaço em estado de hibernação, sem nunca envelhecer. O
objetivo da missão? Mostrar que o tempo passaria de forma diferente para os
tripulantes da nave e os habitantes da Terra. Finalmente chega o momento de
retornar à Terra, mas a nave apresenta problemas técnicos, levando-os ao mar de
um planeta desconhecido, a quase trezentos anos-luz de distância do nosso
planeta.
Obrigados a
abandonar a nave antes que ela afundasse no mar, os três indivíduos restantes
da tripulação iniciam uma caminhada por um longo deserto aparentemente sem
vida. Quando finalmente encontram alguma natureza, se deparam com os habitantes
daquela terra desconhecida: criaturas muito parecidas com os próprios seres
humanos, mas que não possuem capacidade de fala ou algum sinal de inteligência.
Então, Taylor logo descobre os seres que realmente governam o lugar: símios,
criaturas extremamente inteligentes, que subjulgam os humanos, considerando-os
uma praga em seu planeta.
Logo, Taylor é
visto como uma ameaça a toda a vida que os símios conhecem e precisa ser
detido.
“The Planet of the
Apes” ganha de cara por ter Charlton Heston no papel principal. O ator foi galã
e astro de filmes como “Ben Hur”, “El Cid”, “Os Dez Mandamentos”, entre muitos
outros e sempre fazendo trabalho boníssimo com suas atuações. Não é diferente
aqui, onde ele é capaz de dar vida a um George Taylor frustrado, confuso e
revoltado. E além dele temos as felizes interpretações de Maurice Evans como
Dr. Zaius e Kim Hunter como Dra. Zira. Além das ótimas atuações, o filme tem
uma ótima fotografia, ótima trilha sonora, excelente maquiagem. E ótimo
roteiro, claro.
Na imagem: Cornelius (Roddy McDowall), Zira (Kim Hunter) e Taylor (Charlton Heston)
Acima de tudo,
mesmo com quase cinquenta anos desde sua produção, “The Planet of the Apes” não
poderia ser mais atual. O filme todo é uma metáfora; existencialista e social,
abordando temas como a luta de classes e a escravidão. Primeiro temos um George
Taylor que não se importa com seu trabalho ou com o sentido de sua e dos
demais, um homem que não tem nada a perder. E de repente ele perde a si mesmo e
a todas as suas convicções num lugar novo e estranho e se torna uma criança confusa
em busca de atenção, e em busca de algo que possa fazê-lo se importar. Taylor é
a personificação do que somos em muitos momentos de nossas vidas. Então, temos
a questão do preconceito irracional que os símios nutrem pelos humanos,
estimulados por Dr. Zaius que preza a integridade da fé, cultura e sociedade
que sua raça construiu. Uma coisa chocante para o espectador é justamente ver
como esses seres – inferiores aos humanos em nosso mundo – foram capazes de
criar sua própria cultura, de formar toda uma nova sociedade de forma muito
semelhante aos humanos, mas invertendo completamente os papéis; somos colocados
no lugar dos humanos do filme e vemos a nossa soberania questionada. E por
conta de todo o preconceito sofrido, os humanos são feitos escravos, animais,
que só servem para atrapalhar a sobrevivência dos símios. Neste cenário, somos apresentados
à Dra. Zira e seu noivo Cornelius; ambos são importantes cientistas, sendo a primeira dedicada à
psicologia dos humanos e o segundo o formulador de uma teoria que afirma que os
símios evoluíram de seres parecidos com os humanos num passado distante e não
foram criados por seu líder. Porém, o casal é visto como dois hereges em meio a
governantes conservadores e medrosos, ansiosos por manterem a integridade de
sua sociedade, e se mantém constantemente no ataque às ideias de Zira e
Cornelius.
Finalmente, “The Planet of the Apes” traz em
seu final trágico e surpreendente – que tornou-se um ícone na história do
cinema – o destino do planeta Terra, que era claro desde 1968 (!) e justifica o
medo e protecionismo que o Dr. Zaius e seus companheiros têm em relação aos
humanos.
Planeta dos Macacos
ainda tem em sua totalidade angustiantes cenas de ação, coadjuvantes excelentes
que nos ajudam a tecer o cenário do novo mundo governado pelos símios, um “quase
anti-herói” que conquista logo o espectador, além de um dos beijos mais famosos
do cinema mundial.
AS SEQUÊNCIAS
Os anos 1970: De
1968 a 1973, “The Planet of the Apes” ganhou no total quatro filmes para sua
sequência; todos foram realizações de baixíssimo orçamento e destinados “para a
família”, e nenhum deles chegou à excelência do primeiro filme. Entre 1974 e
1975 foi realizada também uma série, que é um ótimo material para os fãs da
franquia e se aprofunda mais na realidade criada pelos símios.
Vejam bem, o filme
original é bem elaborado por muitos motivos, mas principalmente porque tem
tensão, mistério ação nas medidas certas, prendendo o espectador desde o início
(o primeiro macaco só aparece depois de quase meia hora de filme!) até o
glorioso final. Já no filme de Burton (que nunca se desculpou pelo desastre;
apesar de não levar tanta culpa) tudo acontece atropeladamente, sem tensão ou
mistério, tudo cai do céu, inclusive os fenômenos inexplicáveis (seria isso pra
deixar o filme com mais cara de ficção científica? Ou pra se fazerem de
ridículos?). Por fim, a única coisa boa que saiu desta experiência foi a parceria
de Tim Burton e Helena Bonham Carter.
O longa se passa
nos dias atuais e sem ser necessariamente um remake, conta a história anterior
da chegada de George Taylor ao planeta dos macacos. O filme ganha, por exemplo,
ao explicar como os símios chegaram a tal nível de inteligência (no filme
original, dá a entender que os macacos simplesmente evoluíram em menos de mil
anos). Agora os macacos são criados por computação gráfica e estão, digamos, em
sua forma mais selvagem, o que pode ser pouco convincente para os que estão
acostumados com os filmes anteriores (inclusive o de 2001), mas também dá novas
facetas aos “animais”, que ganham expressões quase humanas. Os cenários de Nova
Iorque são clichês, mas familiares e aproveitáveis (e serão principalmente no
segundo filme). No elenco, temos as felizes presenças de James Franco e John
Lithgow, que fazem parte da fase mais dramática do filme.
Falando nisso, vi
vários comentários com a opinião de que o filme “perdeu sua essência”, que
agora é só ação e efeitos especiais. Pode até ser que os filmes não sejam tão
explicitamente filosóficos, porque a situação mudou, mas a metáfora continua a
mesma. Os efeitos especiais ajudam em muitos pontos. Apesar das cenas de ação
(que também estão presentes no filme original), o “núcleo” do filme não é esse,
mas sim o drama de Caesar e a ignorância e crueldade dos humanos. As cenas de
ação ganham alguma destaque (principalmente nos trailers, então não se enganem)
a fim de conquistar o grande público atual, porque afinal, este também é um dos
objetivos do cinema hoje em dia.
Não é um filme
magnífico e com certeza não ganha do original, mas aquece o coração de alguns
fãs e faz nascer o interesse de todos pelo excelente trabalho de Schaffner,
Heston e equipe.
Assim, espero grandes coisas do segundo filme, que promete ser emocionante e contar com uma ótima trilha sonora, além de Gary Oldman e Jason Clarke no elenco.
***
“The Planet of the
Apes” talvez devesse ser um filme intocável e apreciado em sua originalidade
até hoje, tendo sua glória limpa, sem as manchas das diversas “ofensas” que
sofreu ao longo dos anos. Talvez as reflexões que ele nos oferece devessem ser
discutidas até hoje da exata maneira com que foram colocadas no filme. Talvez
devêssemos abominar todas as adaptações que surgiram, principalmente as mais
atuais, que ousam recontar a origem de tudo. Mas, sua glória foi tocada,
manchas foram deixadas e todo mundo viu. Só resta agora a nós, mortais
cinéfilos, fãs ou nerds (ou tudo ao mesmo tempo) amá-las ou odiá-las, sem nunca
esquecer o legado que “The Planet of the Apes”, lá em 1968, nos deixou.
Confira abaixo o trailer final de "Planeta dos Macacos: O Confronto", que chega aos cinemas em 24 de Julho!
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