segunda-feira, 11 de agosto de 2014

[Cinema] Planeta dos Macacos: O Confronto

Título original: Dawn of the Planet of the Apes
Ano: 2014
Direção: Matt Reeves
Nota: 3,5/5
Sinopse: Uma crescente nação de primatas geneticamente modificados e liderados por Cesar é ameaçada pelos sobreviventes humanos de uma alarmante epidemia viral desencadeada há uma década. O momento de paz em que se encontram está fragilizado e dura pouco, quando os dois lados são levados à beira de uma guerra que determinará quem será a espécie dominante da Terra.











   Em 2012, o filme Rise of the Planet of the Apes nostrouxe uma introdução sobre o que seria o planeta dos macacos. Trouxe uma explicação que o primeiro filme (de 1968) não nos deu: no Planeta dos Macacos original, entende-se que os macacos evoluíram rapidamente num período muito menor que dois mil anos. Considerando a teoria de Darwin, coisa impossível de se acontecer. Na nova franquia, os símios ganharam inteligência excepcional depois de serem expostos a um medicamento que poderia ser a cura para o Alzheimer nos humanos.

   Se o primeiro filme foi mais explicativo e nos apresentou à história, Dawn of the Planet of the Apes começa a moldar o Planeta dos Macacos para que ele se torne aquele que conhecemos, o mesmo que nos foi apresentado por Schaffner. E, como um bom filme Hollywoodiano não poderia deixar de ser, com altas doses de apelo emocional e cenas de ação “mais do mesmo”.
   Dawn of the Planet of The Apes se passa dez anos depois de os macacos iniciarem a sua evolução. Os mesmos testes em laboratório que os ajudou também acabaram por criar um vírus, a “Gripe Símia”, que viria a dizimar quase toda a população humana. Os macacos, por outro lado, tiveram seu número visivelmente multiplicado, suas habilidades foram aperfeiçoadas e sua sociedade cresceu. Eles têm uma colônia para abrigar todos de sua espécie. *Aí eu vi uma incongruência e até um ponto negativo, por enquanto. A “colônia” se concentra num espaço bem pequeno para tantos macacos. Por outro lado, eles vivem no meio da floresta e se mostram seres de vida coletiva, portanto o espaço não reprensetaria um problema para os símios. E isso também pode demonstrar a sua evolução gradual, assim como supõe-se que foi a do ser humano: a vida coletiva é uma prioridade para a sobrevivência, mas aos poucos torna-se trivial. Mesmo assim, a situação me incomodou um pouco.* Extremamente unidos, os macacos encontram sua força na família. “Macaco não mata macaco”. Mais uma vez vemos a inversão de papéis: o ser humano atrasado, precisando de outros recursos que não a natureza para sobreviver e tendo que enfrentar a sua individualidade, enquanto os macacos enfrentam os problemas em conjunto, utilizando-se da força do grupo e do ambiente que o cerca.
   A primeira cena do filme mostra exatamente essa evolução. E a superioridade que os símios atingiram em relação aos outros animais. O “bando” sai para caçar. Nessa caça o alvo são antílopes, animais mais frágeis. Mas, durante o evento, um acidente causa o ataque de um urso, que também acaba sendo morto por um macaco. Uma coisa muito “emocionante” também, que eu esperava ver, são os macacos montando cavalos. No filme original, os soldados símios se locomovem cavalgando. Assim, os símios estão praticamente controlando toda a natureza, desde à floresta até os animais. Desde os peixes e mamíferos mais frágeis até os bichos mais ameaçadores.
   A humanidade é considerada extinta pelos macacos, que não vê nenhum ser humano há dois anos (pelo menos). Porém, uma colônia de humanos sobreviventes se concentra num lugar próximo à floresta. Os dois mundos se chocam quando os seres humanos precisam recorrer à natureza para usar uma represa e, assim, poderem usufruir de energia elétrica. Logo nessa primeira cena de encontro somos apresentados a um tipo de maniqueísmo que será desenvolvido durante todo o filme: o primeiro homem que encontra os macacos (dois símios jovens) fica apavorado e mata um deles a tiros.* Mais uma incongruência típica de filmes hollywoodianos: o mundo acabou, os humanos foram dizimados, não tem água, comida, roupa lavada. Mas as armas e munições são literalmente infinitas.* Esse fato alarma tanto macacos quanto humanos e é ele que desencadeia todos os confrontos que virão a seguir.

  
Os “humanos bonzinhos” (representados por Jason Clarke e companhia) são aqueles que tentam conhecer os macacos (até então, eles consideravam que os macacos continuavam sendo simples animais). Malcolm (personagem de Clarke) será aquele que convencerá Caesar a prestar a Judá aos humanos, justamente porque sua bondade lhe lembra do mundo apresentado por Will (James Franco) no primeiro filme e lhe dá esperanças acerca da convivência com a humanidade. Já os “humanos maus” consideram os macacos os culpados por sua “extinção” e não os querem como ameaça ao seu novo mundo, fazendo de tudo para proteger-se a para atacá-los se preciso. Também temos o “humano neutro”, representado por Gary Oldman. O líder da colônia humana é praticamente indiferente à coexistência com os símios, até que eles resolvam prestar ajuda ou representem uma ameaça. Então, ele não se torna mau, mas irracional.

   E ainda temos os macacos. Koba é um símio que, antes da evolução, sofreu muitos abusos por parte dos humanos e tem sua fúria renovada quando eles voltam a representar uma ameaça. É graças a uma ação de Koba que a guerra é iniciada. Caesar voltou muito melhor do que estava no primeiro filme. Agora ele é um líder amado; um pai de família; um “homem” (que saco ficar escrevendo “macaco” e “símio” o tempo todo) dividido entre a sua espécie, seu passado e a justiça. Caesar é o típico líder utópico de qualquer sociedade: ele é frio em suas ações, mas sempre demonstra amor e simpatia por seus seguidores; ele é justo com todos, não importando suas preferências; ele preza a segurança de sua espécie, sua família, mais que tudo. E a mantém unida. Eu adoro a figura de Caesar e o que ele representa. Mas meu preferido é Maurice, a única figura familiar ao espectador além de Caesar. Maurice é o seguidor mais leal de Caesar e um tipo de “conselheiro do rei”, o mais sábio entre os macacos, que sempre está em busca de conhecimento. Uma das cenas mais emocionantes (e quase desnecessárias) do filme é quando Maurice e Alexander (filho de Malcolm) compartilha um livro no acampamento.
   Apesar de o filme começar a dar à luz o planeta dos macacos do filme original, ainda não vemos o cenário desértico e destruído que Schaffner nos apresenta. Pelo contrário. A
natureza agradece pela extinção dos humanos. As florestas voltaram a crescer e o mundo parece estar retornando às suas origens. A única destruição observada são as grandes cidades que antes abrigavam a humanidade. Isso também contribui para o maniqueísmo alimentado no filme. “O humano não sabe cuidar do que é seu”, é isso que os cenários nos dizem. Nas mãos dos humanos, o planeta estava em crescente processo de destruição. Com os macacos, ele prospera. E também retoma a crítica apresentada no filme original.
   Essa primeira parte do longa mostra-se inteligente e faz jus à memória do filme de 1968 e também à do filme anterior. Tudo poderia ser lindo se a ação não fosse tão comicamente exagerada. Principalmente pelas armas e munições intermináveis e metralhadoras que atiram infinitamente. E, no meio disso tudo, há as cenas com o verdadeiro apelo emocional. E esse apelo vai pelo lado familiar, pela união da espécie, sejam humanos ou macacos. Por isso mesmo é impossível ao espectador não se identificar com a situação ou com as personagens.
  
A produção do filme é impecável. Não preciso falar da atuação de Andy Serkins, porque todos sabem que o cara é magnífico em tudo o que faz. Então, preciso destacar o trabalho de Gary Oldman, que, mesmo aparecendo em meia hora do filme apenas, roubou a cena em todos os momentos e fez com que quiséssemos ir mais a fundo em seu personagem. Uma pena que ele não continue na sequência. E a Nick Thurston, intérprete do filho de Caesar, Blue Eyes (que herdou os olhos brilhantes da avó); ele conseguiu mostrar toda a confusão de Blue Eyes, que fica dividido entre a sua percepção dos fatos e sua lealdade ao pai, que sabe ser mais sábio que ele próprio. Jason Clarke também é um excelente ator, mas quando faz o papel de mocinho a sua atuação se torna maçante, difícil de acompanhar. E Kodi Smith-McPhee, o Alexander, também fez um papel feio. Ou simplesmente foi desvalorizado pelo personagem. Vou dar uma chance por causa de seu trabalho em The Congress (O Congresso Futurista, PT-BR). Os cenários e efeitos do filme são, obviamente, magníficos. Tudo o que o dinheiro pode oferecer e um pouco mais.
   Pessoalmente, eu gostei do filme e estou gostando dessa continuidade da franquia e admirando a relativa calma com que eles estão levando a história. São filmes hollywoodianos, mas conseguem ser também inteligentes e atrair os fãs de Planeta dos Macacos. Com prazer.
   A esperança vem no grand finale. A promessa de que a sequência trará um Planeta dos Macacos renovado. Que vai nos dar o grande cenário de destruição. Cortesia humana. 



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