sábado, 29 de junho de 2013

[Rabiscos] Vestido branco

Vestido branco

  
   Então eu estou aqui, olhando para ela. E eu não consigo me lembrar de um dia em que ela estivesse mais bonita. Com seu vestido branco, sua maquiagem leve, seu sorriso tímido. Não consigo me lembrar de uma vez em que eu a amasse mais do que nesse momento. 
    Mas com certeza nunca vou me esquecer das coisas que passamos para chegar até aqui; das boas e das ruins. Da primeira vez em que ela me disse “eu te amo”, da nossa primeira noite juntos. Com certeza nunca vou me esquecer do dia em que eu a conheci, caminhando na chuva, tão romântico e clichê que chega a ser ridículo. Talvez eu me esqueça das nossas brigas, mas só talvez. Coisas boas e ruins, como eu disse.
   Claro que vai ser difícil, principalmente depois desse dia. O dia mais importante da minha vida. Eu já falei que vou ou não esquecer várias coisas; mas, pode acreditar, eu sempre vou me lembrar desse dia.
   É até bem engraçado. O dia está lindo; céu azul, nuvens claras instigando nossa imaginação, pessoas mais felizes do que deveriam, a grama extremamente verde. “Você tinha que escolher o verão, não é?”, eu digo quando ela se aproxima o suficiente. Muito típico. Engraçado. Tem rosas vermelhas por todo o lado; suas preferidas. Eu sempre dei um buquê de rosas vermelhas de presente em seus aniversários; e acho que vou continuar dando.
   Nossas famílias estão aqui; tem tanta gente, meu Deus, eu mal consigo respirar. Algumas pessoas estão chorando discretamente ao meu redor. Eu olho pra trás e encontro sua mãe me encarando e ela também está chorando, deve ser a que mais chorou até agora, depois do seu pai é claro, que me olha como se me culpasse de qualquer coisa; eu tento sorrir, mas acho que o melhor que consigo é uma careta. Eu estou muito nervoso e o padre não pára de me olhar. Ele tenta sorrir também e se sai muito melhor que eu. Deve ser coisa de padre. E ele começa.
   De repente eu estou quase chorando também. Quase. Eu queria chorar só um pouquinho. Queria que as pessoas vissem as lágrimas no meu rosto e pensassem: “Nossa, Clara, você escolheu certo; esse aí gosta mesmo de você”. Mas eu não consigo. A única coisa que eu faço é ouvir a voz rouca do padre e olhar para ela. Tão bonita nesse vestido branco. A maquiagem a deixa meio pálida, mas o sorriso vale tudo. Eu acho que é um sorriso, mas talvez ela só esteja tentando também.
   O padre está quase terminando; eu não acredito que esse dia chegou. Eu nunca achei que ia chegar; quem sabe mais uns anos, a gente ainda poderia aproveitar muita coisa. Mas, se a hora é agora, então que seja agora. Eu nem tentei evitar, sinceramente; talvez eu quisesse, secretamente. Então o padre finalmente faz a pergunta, a pergunta que me faz sorrir:
   “Será mesmo a morte o fim de tudo, irmãos?”
   Eu me aproximo um pouco mais do caixão e deixo uma rosa vermelha em seu ventre. Eram suas preferidas e o contraste das cores forma uma imagem perfeita. Quase perfeita. Aqui entre nós,ela nunca esteve tão bonita.

   

Um comentário:

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