Quando eu
era criança, era bom tomar café em família. Mais que bom, era comum. Hoje, cada
um tem seu compromisso, sai quando deve e come quando der. Tanto que, hoje, eu
também tomo café da manhã sozinho, lendo o jornal e olhando minhas pantufas
laranja. Seria até cômico se não tão trágico. Mas eu tento amenizar tudo isso
com lembranças daqueles cafés em família. (Cafés esses que me deixaram com uma
bela úlcera).
Mas, um dia o vovô morreu. Assim, no humor
curto e grosso de Deus. Na manhã seguinte, todos olhavam para a cadeira vazia
que ele deixara. Inclusive a clara, com só cinco anos.
- Cadê o
vovô?
- O vovô
morreu – assim, no humor curto e grosso de meu pai.
- O que é
morrer?
Às vezes, as crianças fazem umas perguntas
filosóficas demais para os adultos pensarem. E profundas demais para os
cientistas resolverem.
- Morrer é
quando alguém é transformado num anjo e levado pro Céu – assim, no humor frio mas
carinhoso de minha mãe.
- Morrer é
quando um bicho gigante entra no seu cérebro e você pára de respirar – assim,
no humor mais infantil de meu irmão.
- Morrer é
morrer, e pronto! – simples, curto e grosso.
Assim, tudo ao mesmo tempo...
Ninguém disse mais nada. Minha irmã não
perguntou nada para mim; na verdade, depois de uns cinco minutos, ela já tinha
esquecido pergunta e respostas, beliscando o bolo de milho.
Eu também nunca disse nada. Nem naquele dia
e até hoje. Seria demais eu dizer que vovô não tinha morrido: estava ali; tinha
deixado um pedacinho seu com cada um de nós. Assim, à la O Pequeno Príncipe mesmo.
Mas mesmo assim...
Mesmo assim, ainda hoje, alternando o olhar
entre um café que eu não deveria tomar e minhas pantufas laranjas, eu continuo
me perguntando: que diabos é morrer?
Miguinha,merece MB,muito boa sua crônica e tenho muito a aprender com você para minha profissão depois do estágio de faxineira na globo.Parabéns!!
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