segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Resenha: O Pacto


Título original: Horns
Autor: Joe Hill
Páginas: 317
Sinopse: Ignatius Perrish sempre foi um homem bom. Tinha uma família unida e privilegiada, um irmão que era seu grande companheiro, um amigo inseparável e, muito cedo, conheceu Merrin, o amor de sua vida. Até que uma tragédia põe fim a toda essa felicidade: Merrin é estuprada e morta e ele passa a ser o principal suspeito. Embora não haja evidências que o incriminem, também não há nada que prove sua inocência. Todos na cidade acreditam que ele é um monstro. Um ano depois, Ig acorda de uma bebedeira com uma dor de cabeça infernal e chifres crescendo em suas têmporas. Descobre também algo assustador: ao vê-lo, as pessoas não reagem com espanto e horror, como seria de esperar. Em vez disso, entram numa espécie de transe e revelam seus pecados mais inconfessáveis. Um médico, o padre, seus pais e até sua querida avó, ninguém está imune a Ig. E todos estão contra ele. Porém, a mais dolorosa das confissões é a de seu irmão, que sempre soube quem era o assassino de Merrin, mas não podia contar a verdade. Até agora. Sozinho, sem ter aonde ir ou a quem recorrer, Ig vai descobrir que, quando as pessoas que você ama lhe viram as costas e sua vida se torna um inferno, ser o diabo não é tão mau assim.

   Ignatius Perrish está bebendo um martíni enquanto o amor da sua vida, Merrin Willians, diz que os dois começaram muito cedo e que eles precisam sair com pessoas diferentes. Com raiva, ele sai do bar completamente bêbado e adormece dentro do seu carro em uma fundição. Na manhã seguinte, Merrin está morta e Ig é o principal suspeito.
   Um ano depois, Ig acorda com uma dor de cabeça terrível; ao seu olhar no espelho, percebe que chifres –sim, chifres! – estão crescendo em suas têmporas. Desesperado, ele vai até a cozinha e vê sua “namorada”, Glenna, tomando café da manhã. Quando o vê, ela não expressa nenhum horror aos chifres, nem parece notá-los. Pior: Glenna começa a desfiar todos os seus desejos proibidos e seus pecados. Todos os pensamentos ruins que tem com relação a Ig. Sem agüentar mais, a opção mais sensata é fugir.
   O problema é que não há para onde fugir. Todos – a recepcionista, seu médico, o padre da cidade, sua família – estão suscetíveis ao poder dos chifres. Todos contam seus pecados mais obscuros, muitos deles relacionados a Ig. E acontece a mesma coisa quando ele toca alguém: é possível ver todas as coisas ruins que a pessoa já fez ou pensou.
   É através desse poder ao mesmo tempo terrível e maravilhoso que o assassino do seu amor lhe é revelado. Uma surpresa tão dolorosa que desencadeia um senso de vingança que Ig não poderia imaginar que estivesse escondido dentro de si.
   ‘O Pacto” é um livro apaixonante. Pelo menos foi pra mim. E nos coloca uma questão: será mesmo que, com todas as coisas erradas que os humanos fazem precisamos de um ser sobrenatural que é a verdadeira personificação do Mal? Ou será isso tudo uma desculpa para a esconder a maldade humana? Será que, na verdade, o Diabo não seria o mocinho de toda a história da humanidade?
   Somos apresentados ao assassino de Merrin logo no princípio. Depois, há relatos das coisas passadas que levaram a essa loucura e o presente de um Ignatius fissurado por vingança. Ele é um excelente personagem e tive pena dele em alguns momentos. Quero dizer, Ig sempre foi ingênuo de certa forma, acreditando no mundo perfeito dos seus sonhos; a morte de Merrin é já um choque, uma quebra de seu mundo e de sua personalidade. A descoberta do assassino vira seu mundo completamente de cabeça para baixo. Ele passa por um momento tão confuso. De repente ele é o principal suspeito de assassinato do amor da sua vida e do nada ele se vê não só com a verdade nas mãos mas também com uma certa capacidade de mudar isso, de fazer justiça.
   É difícil acreditar que as pessoas próximas a Ig acreditem que ele foi o verdadeiro assassino da namorada. O amor que ele nutre por ela fica evidente durante a estória toda. Uma coisa pura, além de verdadeira. E esse sentimento é mútuo (parece que Merrin lhe dá um pé na bunda, mas se eu mandar a real vai ser um King spoiler, então vão ter que ler o livro para ter a prova desse amor). É óbvio que ele nunca faria mal algum a ela.
   Falando em Merrin, são poucas as vezes que realmente temos um contato com ela. Às vezes ela aparece num pensamento desesperado do protagonista, mas só temos uma oportunidade vaga de conhecê-la nos relatos da juventude de Ig. Por isso, não posso falar muita coisa sobre ela; me pareceu que acima de tudo que era uma pessoa forte, que é realista, mas se permite a ter alguns momentos de ilusões confortantes.
   Além dos dois, outro personagem importante é Lee Torneau, o melhor amigo de Ig. Pensando bem, ele já foi o melhor amigo. Depois da morte de Merrin, Lee acaba se afastando e Ig aceita isso com a desculpa de que ele tem um futuro pela frente e não poderia deixar que um suposto assassino maluco atrapalhasse esse futuro. E, puta que pariu! Lee é um dos personagens mais bem elaborados que já tive a oportunidade de conhecer. Ele é louquinho de pedra, pra começar. Sempre pensou que Merrin dava em cima dele, fazia análises absurdas das conversas com ela, como se suas palavras tivessem um significado especial escondido apenas para ele. Ele mente para todos e faz isso muito bem. É de uma frieza espetacular, nítida, palpável. Joe Hill me ganhou com esse personagem, uma óbvia demonstração de talento (herdado do pai, claro, ouso dizer) e observação.
   Temos também Terry, irmão de Ig e um grande amigo, isento de qualquer desconfiança. Terry é arrogante, odeia Gideão (cidade onde se passa a história). Mas, de certa forma, tem um amor inocente dentro de si que me conquistou.
   O final é surpreendente, emocionante e perfeito. Não deixa nada sem explicação nem um “gostinho de quero mais” desesperado, mas sim uma saudade imediata que conforta.
   Em suma, O Pacto não é um livro de terror, como muitos podem imaginar. É psicológico. Nos leva às mais obscuras profundezas da mente humana, presente em todos nós, queiramos ou não. É sobre amadurecimento para aceitar certas coisa e a falta dele para perceber que algumas delas são imutáveis. Sobre o fato de que não existe nem Bem nem Mal. Só existe o humano, que pode ter atitudes boas e algumas não tão boas assim. Existe apenas a sociedade que tenta nos enganar, dando a ilusão de que existem coisas erradas e que existem pessoas boas. O mal é uma coisa tão relativa, não acha? Não precisamos de um Deus e um Diabo. Já temos nossa humanidade, que já bondosa ou cruel o suficiente. E, temo dizer, ultimamente tem sido mais cruel que bondosa. E tem tido uma crueldade simples acumulada, que vai explodir cedo ou tarde.
   Nota: 5/5

Quotes:
Você acha que conhece uma pessoa, mas na maioria das vezes só conhece o que quer conhecer.

Você devia pedir seu dinheiro de volta. Foi enganado. Você é só um embrulho. Apenas uma caixa bonita sem nada dentro – página 235

A cruz era o símbolo da mais típica condição humana: o sofrimento. E Ig estava cansado de sofrer. Se alguém tivesse de ser pregado numa árvore, ele queria ser quem tinha o martelo na mão. – página 263

- [...] Sob muitos aspectos, acho que Satanás foi o primeiro super-herói.
- Você não quer dizer supervilão?
- Nããão. Herói com certeza. Pensa bem.Em sua primeira aventura ele assumiu a forma de cobra pra libertar dois prisioneiros mantidos numa floresta de Terceiro Mundo por um megalomaníaco poderoso. Ao mesmo tempo, ampliou a dieta dele e fez com que tomassem consciência de sua sexualidade. Pra mim, parece o cruzamente entre o Homem – Animal e um conselheiro amoroso.

Talvez todos os planos do Diabo não fossem nada comparados ao que os homens conseguem tramar.

   Pra terminar, eu não mencionei, mas o livro tem excelentes citações de músicas americanas, desde jazz até o bom e velho rock 'n roll. Uma delas que eu não conhecia, mas adorei é "Devil Inside", de Michael Hutchence; uma música apaixonante e que não poderia ter maior relação com a  história de Ig.

Um comentário:

  1. Cara, eu li ele, mas no final,li perto da madrugada e me perdi um pouco. Na sua opinião, pq os chifres surgiram depois dele entrar na casa da árvore da mente?

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