Título original: Horns
Autor: Joe Hill
Páginas: 317
Sinopse: Ignatius Perrish sempre foi um homem bom. Tinha
uma família unida e privilegiada, um irmão que era seu grande companheiro, um
amigo inseparável e, muito cedo, conheceu Merrin, o amor de sua vida. Até que
uma tragédia põe fim a toda essa felicidade: Merrin é estuprada e morta e ele
passa a ser o principal suspeito. Embora não haja evidências que o incriminem,
também não há nada que prove sua inocência. Todos na cidade acreditam que ele é
um monstro. Um ano depois, Ig acorda de uma bebedeira com uma dor de cabeça
infernal e chifres crescendo em suas têmporas. Descobre também algo assustador:
ao vê-lo, as pessoas não reagem com espanto e horror, como seria de esperar. Em
vez disso, entram numa espécie de transe e revelam seus pecados mais
inconfessáveis. Um médico, o padre, seus pais e até sua querida avó, ninguém
está imune a Ig. E todos estão contra ele. Porém, a mais dolorosa das
confissões é a de seu irmão, que sempre soube quem era o assassino de Merrin,
mas não podia contar a verdade. Até agora. Sozinho, sem ter aonde ir ou a quem
recorrer, Ig vai descobrir que, quando as pessoas que você ama lhe viram as
costas e sua vida se torna um inferno, ser o diabo não é tão mau assim.
Ignatius
Perrish está bebendo um martíni enquanto o amor da sua vida, Merrin Willians,
diz que os dois começaram muito cedo e que eles precisam sair com pessoas
diferentes. Com raiva, ele sai do bar completamente bêbado e adormece dentro do
seu carro em uma fundição. Na manhã seguinte, Merrin está morta e Ig é o
principal suspeito.
Um ano
depois, Ig acorda com uma dor de cabeça terrível; ao seu olhar no espelho,
percebe que chifres –sim, chifres! – estão crescendo em suas têmporas.
Desesperado, ele vai até a cozinha e vê sua “namorada”, Glenna, tomando café da
manhã. Quando o vê, ela não expressa nenhum horror aos chifres, nem parece
notá-los. Pior: Glenna começa a desfiar todos os seus desejos proibidos e seus
pecados. Todos os pensamentos ruins que tem com relação a Ig. Sem agüentar
mais, a opção mais sensata é fugir.
O
problema é que não há para onde fugir. Todos – a recepcionista, seu médico, o
padre da cidade, sua família – estão suscetíveis ao poder dos chifres. Todos
contam seus pecados mais obscuros, muitos deles relacionados a Ig. E acontece a
mesma coisa quando ele toca alguém: é possível ver todas as coisas ruins que a
pessoa já fez ou pensou.
É
através desse poder ao mesmo tempo terrível e maravilhoso que o assassino do
seu amor lhe é revelado. Uma surpresa tão dolorosa que desencadeia um senso de
vingança que Ig não poderia imaginar que estivesse escondido dentro de si.
‘O
Pacto” é um livro apaixonante. Pelo menos foi pra mim. E nos coloca uma
questão: será mesmo que, com todas as coisas erradas que os humanos fazem
precisamos de um ser sobrenatural que é a verdadeira personificação do Mal? Ou
será isso tudo uma desculpa para a esconder a maldade humana? Será que, na
verdade, o Diabo não seria o mocinho de toda a história da humanidade?
Somos
apresentados ao assassino de Merrin logo no princípio. Depois, há relatos das
coisas passadas que levaram a essa loucura e o presente de um Ignatius
fissurado por vingança. Ele é um excelente personagem e tive pena dele em
alguns momentos. Quero dizer, Ig sempre foi ingênuo de certa forma, acreditando
no mundo perfeito dos seus sonhos; a morte de Merrin é já um choque, uma quebra
de seu mundo e de sua personalidade. A descoberta do assassino vira seu mundo
completamente de cabeça para baixo. Ele passa por um momento tão confuso. De
repente ele é o principal suspeito de assassinato do amor da sua vida e do nada
ele se vê não só com a verdade nas mãos mas também com uma certa capacidade de
mudar isso, de fazer justiça.
É
difícil acreditar que as pessoas próximas a Ig acreditem que ele foi o
verdadeiro assassino da namorada. O amor que ele nutre por ela fica evidente
durante a estória toda. Uma coisa pura, além de verdadeira. E esse sentimento é
mútuo (parece que Merrin lhe dá um pé na bunda, mas se eu mandar a real vai ser
um King spoiler, então vão ter que ler o livro para ter a prova desse amor). É
óbvio que ele nunca faria mal algum a ela.
Falando
em Merrin, são poucas as vezes que realmente temos um contato com ela. Às vezes
ela aparece num pensamento desesperado do protagonista, mas só temos uma
oportunidade vaga de conhecê-la nos relatos da juventude de Ig. Por isso, não
posso falar muita coisa sobre ela; me pareceu que acima de tudo que era uma
pessoa forte, que é realista, mas se permite a ter alguns momentos de ilusões
confortantes.
Além dos
dois, outro personagem importante é Lee Torneau, o melhor amigo de Ig. Pensando
bem, ele já foi o melhor amigo. Depois da morte de Merrin, Lee acaba se
afastando e Ig aceita isso com a desculpa de que ele tem um futuro pela frente
e não poderia deixar que um suposto assassino maluco atrapalhasse esse futuro.
E, puta que pariu! Lee é um dos personagens mais bem elaborados que já tive a
oportunidade de conhecer. Ele é louquinho de pedra, pra começar. Sempre pensou
que Merrin dava em cima dele, fazia análises absurdas das conversas com ela,
como se suas palavras tivessem um significado especial escondido apenas para
ele. Ele mente para todos e faz isso muito bem. É de uma frieza espetacular,
nítida, palpável. Joe Hill me ganhou com esse personagem, uma óbvia
demonstração de talento (herdado do pai, claro, ouso dizer) e observação.
Temos
também Terry, irmão de Ig e um grande amigo, isento de qualquer desconfiança.
Terry é arrogante, odeia Gideão (cidade onde se passa a história). Mas, de
certa forma, tem um amor inocente dentro de si que me conquistou.
O final
é surpreendente, emocionante e perfeito. Não deixa nada sem explicação nem um
“gostinho de quero mais” desesperado, mas sim uma saudade imediata que
conforta.
Em suma,
O Pacto não é um livro de terror, como muitos podem imaginar. É psicológico.
Nos leva às mais obscuras profundezas da mente humana, presente em todos nós,
queiramos ou não. É sobre amadurecimento para aceitar certas coisa e a falta
dele para perceber que algumas delas são imutáveis. Sobre o fato de que não
existe nem Bem nem Mal. Só existe o humano, que pode ter atitudes boas e
algumas não tão boas assim. Existe apenas a sociedade que tenta nos enganar,
dando a ilusão de que existem coisas erradas e que existem pessoas boas. O mal
é uma coisa tão relativa, não acha? Não precisamos de um Deus e um Diabo. Já
temos nossa humanidade, que já bondosa ou cruel o suficiente. E, temo dizer,
ultimamente tem sido mais cruel que bondosa. E tem tido uma crueldade simples
acumulada, que vai explodir cedo ou tarde.
Nota: 5/5
Quotes:
Você acha que conhece uma pessoa, mas na maioria
das vezes só conhece o que quer conhecer.
Você devia pedir seu dinheiro de volta. Foi
enganado. Você é só um embrulho. Apenas uma caixa bonita sem nada dentro –
página 235
A cruz era o símbolo da mais típica condição
humana: o sofrimento. E Ig estava cansado de sofrer. Se alguém tivesse de ser
pregado numa árvore, ele queria ser quem tinha o martelo na mão. – página 263
- [...] Sob muitos aspectos, acho que Satanás foi
o primeiro super-herói.
- Você não quer dizer supervilão?
- Nããão. Herói com certeza. Pensa bem.Em sua
primeira aventura ele assumiu a forma de cobra pra libertar dois prisioneiros
mantidos numa floresta de Terceiro Mundo por um megalomaníaco poderoso. Ao
mesmo tempo, ampliou a dieta dele e fez com que tomassem consciência de sua
sexualidade. Pra mim, parece o cruzamente entre o Homem – Animal e um
conselheiro amoroso.
Talvez todos os planos do Diabo não fossem nada
comparados ao que os homens conseguem tramar.
Pra terminar, eu não mencionei, mas o livro tem excelentes citações de músicas americanas, desde jazz até o bom e velho rock 'n roll. Uma delas que eu não conhecia, mas adorei é "Devil Inside", de Michael Hutchence; uma música apaixonante e que não poderia ter maior relação com a história de Ig.
Cara, eu li ele, mas no final,li perto da madrugada e me perdi um pouco. Na sua opinião, pq os chifres surgiram depois dele entrar na casa da árvore da mente?
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