domingo, 21 de outubro de 2012

Pessoalidade - Aborto

   Se você não sabe o que é essa Pessoalidade, pode clicar aqui pra conferir o primeiro post da coluna sobre política brasileira. Hoje eu falo sobre aborto; o texto não tem como intenção ofender qualquer credo ou opinião, seja ela política ou pessoal, então, se isso acontecer pode me indicar o trecho que, se eu concordar, modifico imediatamente.

   Recentemente, foi legalizado no Brasil o aborto em casos de anencefalia. Quem acompanhou sabe que foi uma farra, o Facebook inteiro se mobilizou contra, vi posts em alguns blogs e tudo o mais. E fiquei pensando: a maioria das pessoas nem sabe o que é um feto anencéfalo, não sabe que ele morre apenas algumas horas depois do nascimento e ficava xingando quem era a favor. Além disso, quem iria querer viver com um filho assim, mesmo que ele sobrevivesse? Sinceramente, podem falar a merda que for, mas acho que a maioria não conseguiria. Isso nos leva à questão geral do aborto e da certa polêmica que ele causa.
   Primeiro, quero que você veja uma coisa:

   Isso aí em cima é um aborto de seis semanas. Basicamente, é nada além de um monte de sangue e a semente de um feto. Não tem nada daquelas imagens medonhas de bebês já completamente formados que foram abortados e toda aquela baboseira. Não, isso é o que eu e muitas outras pessoas querem: um aborto seguro, uma escolha pessoal, uma verdade.
   Outro ponto, aliás: por que as pessoas que são contra o aborto não usam imagens como essa pra ilustrar seus cartazes de protesto? Sim, porque, até onde sei, aqueles fetos horrorosos são frutos de um crime, de um aborto sem supervisão médica, não legalizado. Fruto desses mesmos protestos que beiram o ridículo. Uma coisa que acontece aqui no Brasil, meus queridos leitores.
   Falando nisso, percebeu uma coisa? Mesmo o aborto não sendo legalizado, muitas mulheres recorrem a outros meios para fazê-lo, trazendo vários riscos não só para a própria saúde mas também para a saúde do país. E essas mulheres vão a clínicas clandestinas, com um único obstetra às vezes, bem depois das seis semanas que seriam recomendadas para se realizar o aborto. E, claro, nenhum médico que mereça sua licença faria uma coisa assim.
   Então, se todo mundo faz mesmo contra a lei, morrendo e matando, por que as pessoas ainda insistem e insistem em dizer que “não, você é um animal se abortar” “você vai para o Inferno”? É, porque, depois que a criança indesejada nascer e for jogada no lixo ou em algum córrego, ninguém vai lembrar que existiu a possibilidade do aborto num momento em que a criança nem existia ainda. A pessoa vai pro Inferno do mesmo jeito, hein?
   Por falar em Inferno, acho que grande parte do preconceito contra aborto está ligada à religião (como a maioria dos preconceitos, aliás, me desculpe). Quero dizer, tem aquela história de que nós já nascemos com essa alma e, abortando, você não só estaria matando a carne, mas também arrancando a alma do seu filho e sabe-se lá Deus quando essa alma vai poder voltar. E não é por que eu sou ateísta, gente, é observação: a maioria dos ateus que conheço tende mais a aceitar a idéia do aborto.
   Mas agora você deve estar pensando: “então você quer que milhões de irresponsáveis transem por aí sem parar, as mulheres engravidem e possam arrancar a ‘irresponsabilidade’ delas?” E, bem, não. Acho que, principalmente no Brasil, a idéia de métodos contraceptivos precisa ser muito mais difundida; a maioria das pessoas acha que a camisinha é feita de um material mágico que nunca vai falhar e acabam usando só esse método, quando usam, claro. Bem, a verdade é que todos os métodos contraceptivos falham, óbvio; mágica só nos livros do Harry Potter. E aqui tem outro ponto: eu sou informada, usei camisinha, pílula, tudo que podia talvez, mas fiquei grávida; não quero aquela coisa barulhenta que chamam de bebê, mas mesmo assim não posso abortar? Aô, sociedade linda de hipócrita, hein, bate aqui coleguinha. Mas, voltando; poucas pessoas sabem que não existe magia, simplesmente por que ninguém fala nisso. E por isso é importante haver uma conversa entre pais e filhos ou, se houver algum constrangimento, pelo menos faça uma pesquisa completa para o/a garoto/garota; e, acredite, nesses tempos nunca é cedo demais. E também por parte do governo; eles dão camisinha de graça, ótimo. Mas cadê o material de INFORMAÇÃO? O gato comeu, acho.
   Aliás, vocês já viram o caso da China? Recentemente, uma mulher humilde engravidou pela segunda vez (isso é praticamente proibido lá; se acontecer, você tem que pagar uma multa quase absurda) e acabou descoberta. Ela já tinha passado das seis semanas e a polícia a obrigou a fazer um aborto. Sinceramente, você quer que nosso lindíssimo país, tão honesto e limpo, tão digno de admiração tenha que agüentar um fardo desse? Claro que esse futuro fica bem longe, mas não deixa de ser possível. Ou você acha que todos os bebês chineses foram desejados e recebidos com amor e alegria numa linda casa de algodão-doce?
   Acho que principalmente uma mulher ser contra o aborto é uma coisa digna de pena apenas (sem ofensas). Imagine, você acabou de entrar na faculdade, transou com o seu namorado nas mesmas condições que já citei acima e ficou grávida. Agora você tem que abandonar a faculdade, rezar pro seu namorado não deixar você e ainda criar uma criança chorona que você não quer; tudo por que o governo lindo e maravilhoso não deixa. O GOVERNO NÃO DEIXA. E o maior prejudicado pelos casos de aborto clandestino, abandono de incapaz, bebês na lixeira é quem mesmo? Olha, eu é quem não sou. E também não vou ser prejudicada se Fulana abortar. Simplesmente não é da minha conta.
   Me responda uma coisa, se você for contra: se eu abortasse agora, porque sua vida iria mudar mesmo? Você não iria esquecer isso em menos de uma semana? Isso te tira dinheiro, moral, fé, ou qualquer outra coisa? Sério mesmo?
   Aborto é uma escolha pessoal. O Governo não tem nada a ver com isso. A sociedade não tem nada a ver com isso. Você não tem nada a ver com isso.
   Eu fico horrorizada quando vejo uma mulher que não pode cuidar dos seus quinhentos filhos. Fico entristecida quando vejo a imagem de um bebê já formado que foi abortado. Fico com raiva quando ouço que uma mulher foi morta numa clínica clandestina. Tenho vontade de matar alguém quando uma criança de um ano é abandonada numa viela. Choro quando vejo uma mulher obrigada a abortar seu filho por não ter dinheiro, porque seu país foi incompetente demais pra impedir que isso acontecesse. É por isso e mais um pouco que sou completamente a favor do aborto.
   É por isso que a maioria das pessoas contrárias é hipócrita.
   Volte de novo naquela imagem do início do post. Aquilo é um aborto de seis semanas. Aquilo é segurança, é amor próprio. Aquilo é o certo, numa sociedade onde até o certo é errado.

2 comentários:

  1. Educação sexual para saber, aborto legal para não morrer. <3
    Eu comecei a ler esse texto já de cara amarrada. Eu tinha certeza, certeza absoluta mesmo, que ia ser aqueles "sou contra" cheios de argumentos babacas (sem querer ofender ninguém) baseados na Bíblia - gente, livro religioso não é argumento incontestável de ninguém.
    Os contra o aborto são contra a camisinha, contra a pílula do dia seguinte, contra a proteção? São a favor da AIDS, então? É difícil entender.
    De qualquer forma, foi uma agradável surpresa ver um artigo tão racional. Parabéns.
    Amor, Ana.

    quemprecisaviver.blogspot.com.br

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