sábado, 15 de março de 2014

Resenha: Duma Key

Título original: Duma Key
Autor: Stephen King
Páginas: 664
Sinopse: Um acidente terrível em um canteiro de obras arranca o braço e a mão direitos de Edgar Freemantle e embaralha sua memória e sua mente. A raiva é praticamente tudo o que lhe resta enquanto inicia sua penosa recuperação. O casamento que gerou duas filhas maravilhosas termina de repente e Edgar começa a desejar não ter sobrevivido às lesões que quase o mataram. Seu psicólogo sugere uma "cura geográfica", uma nova vida longe das cidades gêmeas de Minneapolis-Saint Paul e da empresa que ele construiu do nada. E sugere que Edgar também retome o hábito de desenhar. Ele troca, então, Minnesota por uma casa alugada em Duma Key, uma ilhota de beleza extraordinária e estranhamente subdesenvolvida na costa da Flórida. Lá, ele ouve o chamado do sol se pondo no Golfo do México e da maré chacoalhando as conchas na praia - e desenha. Uma visita de Ilse, sua filha mais querida, o incentiva a abandonar a solidão. Ele encontra um amigo em Wireman - um homem que reluta em revelar suas próprias feridas - e, posteriormente, em Elizabeth Eastlake - uma idosa cujas raízes estão fincadas em Duma Key. Edgar passa a pintar - às vezes de modo febril -, e seu talento em combustão se revela tanto uma dádiva quanto uma arma. Muitos de seus quadros têm um poder que não pode ser controlado. Quando os fantasmas do passado de Elizabeth começam a surgir, descobrimos o perigo que suas pinturas surreais representam. Ao nos revelar a tenacidade do amor, os riscos da criatividade, os mistérios da memória e a natureza do sobrenatural, Stephen King escreve um romance ao mesmo tempo sublime, cativante e assustador. Skoob


   Edgar Freemantle era um gênio do ramo de construções e enriqueceu graças a seu trabalho duro de um vida toda. Mas tudo isso acaba quando um acidente arranca seu braço direito e causa danos em seu cérebro. De repente, Edgar não tem mais sua esposa, não pode voltar ao seu trabalho e mergulha em uma densa depressão ao descobrir que não sabe como tocar vida em meio a toda raiva e falta de memória que o assolam. Então, a conselho de seu psicólogo, ele “muda de ares” e vai para Duma Key, uma ilha de beleza exótica, além de voltar a desenhar, um talento abandonado desde quando era jovem.
   Mas, em Duma, nenhum talento passa despercebido aos olhos de seus habitantes mais antigos e assustadores, que cativam cada vez mais os talentos de Edgar, fazendo-o pintar o passado e presente dos que estão ao seu redor, como Wireman, um homem com frases de efeito guardadas para cada situação e que, apesar do sorriso bonito, esconde seu próprio passado doloroso, e Elizabeth Eastlake, a detentora de toda a região de Duma Key, cuja Alzheimer não deixa esquecer – e nem a Edgar - os fantasmas que enfrentou na ilha durante sua infância.
   É justamente quando tudo parece bem, porém, que Duma Key explode com seus piores segredos.
   Stephen King no melhor de Stephen King.
   Mesmo o maior fã do dito “mestre do terror” pode negar as visíveis falhas em sua narrativa; eu, pelo menos, não nego. Mas, Duma Key prova ser um dos bons do rei.
   Apesar de ser narrado em primeira pessoa (o que exclui em parte o delicioso discurso de King), Edgar Freemantle mostra-se um tipo de anti-herói que o tempo todo faz o leitor se confundir com raiva, medo, pena e frustração. Além disso, Duma Key tende a ser um terror psicológico ao longo de quase todo o livro, portanto a voz do protagonista – divertida e emburrada, triste e confusa, digno de um homem na meia idade como só King consegue fazer soar – é sempre bem-vinda, e intensifica todas as emoções. Acima de tudo, Edgar é um artista. O que nos faz navegar pelo mundo que envolve a arte plástica e, mais que isso, todo o processo de criação que qualquer artista (seja você escritor, pintor ou arquiteto) enfrenta em suas criações: a dúvida, a euforia, o transe, a dúvida de novo e a felicidade por fazer algo que valha a pena e que te faz sentir bem. Assumindo a primeira pessoa, King consegue revelar profundamente essas questões, além de nos levar em uma jornada de restauração de uma pessoa: da profunda depressão à descoberta de algo novo e bom.
   As mais de seiscentas páginas de Duma Key podem parecer enrolação quando se pensa nelas dessa maneira, mas por ser uma história narrada em primeira pessoa (sim, já disse isso), todos os aspectos do personagem são revelados aos poucos, e mais aos poucos ainda os dos que estão ao seu redor. Além disso, o romance todo é recheado de segredo que se revelam a cada capítulo e surgem de todos os lados.
   Por falar em personagem, todos aqui são incríveis. Já falei muito sobre Edgar (por quem fiquei realmente apaixonada), mas ainda temos Wireman, um homem incrivelmente amável que não deixou as crises do passado atrapalharem seu vida e dá um suporte e tanto a Edgar e à Elizabeth, que se mostra uma senhora enérgica e genial, uma patrona das artes que tem respeito por tudo o que faz e que cativa o leitor em sua luta contra o Alzheimer. E pra não falar de todos os outros participantes menores da vida de Edgar, que apesar de não serem tão importantes para nós, nos divertem e emocionam em sua relação com o protagonista.
   O desfecho do livro é à la Stephen King, talvez com uma mistura de Neil Gaiman. O terror psicológico permanece mas divide o lugar com algo mais fantasioso e palpável. Tudo fica no meio de um nevoeiro e nada é um Final. Mas é divertido, é assustador, é instigante e me apaixonou como eu não ficava há tempos.
   É Stephen King.
   E, mais do que um simples entretenimento, Duma Key é uma obra talvez muito mais profunda e revela o grande autor que King na verdade é.

   É Stephen King no melhor de Stephen King.

"Nós nos enganamos tanto, que poderíamos viver disso."

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